Páginas

domingo, 10 de junho de 2012

No fim, nada



Ontem, ao cair da tarde me deitei no chão até que a noite pousasse sobre mim e fiquei a olhar as estrelas. Comecei a contar, mas são muitas, tantas que não pude continuar, são tantas quanto as dúvidas. As dúvidas sobre o destino, sobre o tempo, sobre o futuro. Não sei se alguém pode aceitar alguém assim: que se deita ao relento e fica a tentar contar as estrelas sabendo o quão inútil está sendo seu ato.

No fim o que eu queria não era um número, mas uma resposta, queria saber se uma daquelas estrelas poderia me dar ao menos uma pista que me levasse ao fim da angústia de não saber nada. Mas nada me disseram. Não descobri nada mais do que já sabia, que tudo que tem início tem fim, que nada é eterno, apenas o céu e a terra, que somos todos poeira no vento que o tempo sopra. Não descobri se minha existência continuará um dia através de outra vida ou se tudo terá fim em meu próprio ser. Não descobri caminhos, nem destinos, nem rumos. Não descobri nada.

É certo que haverá sempre alguém me esperando, pronto para ficar ao meu lado durante minha dúvida. Sempre haverá alguém para me dar a mão quando eu tropeçar na escuridão e dizer "Está tudo bem. Eu te ajudo.", mas ainda não descobri quanto tempo dura o "sempre".

sábado, 26 de maio de 2012

O vendedor de sonhos



Vendo sonhos, pequenos e simples, ou longos e complexos; em todas as formas e cores. Vendo sonhos que cansei de tentar realizar, vendo sonhos de liberdade, igualdade e fraternidade; vendo sonhos de um mundo melhor, vendo sonhos de pessoas melhores. Inclusive, alguns dos quais quero me livrar, e logo, dizem respeito às pessoas.

Tenho pressa em vender sonhos de pessoas que amam o próximo, posso até parcelar o pagamento. Dou um bom desconto a quem quiser comprar os sonhos de pessoas mais justas e de pessoas mais honestas. E ainda, se alguém levar dois sonhos de pessoas melhores, recebe inteiramente grátis o sonho de um mundo menos violento.

A maioria desses sonhos, na verdade todos eles, eu recebi de graça, de pessoas que os sonhavam e compartilhavam com o mundo, algumas delas já se foram, outras continuam sonhando. Sei que serei questionado, afinal, se recebi os sonhos gratuitamente não estaria sendo injusto ao tentar vendê-los? O fato, caros amigos e amigas, é que me cansei desse meu exagerado altruísmo e não convêm mais a este narrador entregar de bom grado e sem custo o que custou ser compreendido. Ademais, como bem tenho notado, as pessoas não dão valor às coisas que lhes são oferecidas de graça, mesmo que sejam oferecidas de bom coração. Só é dado valor às coisas que têm um preço, sendo assim resolvi vender meus sonhos, quem sabe assim alguém não acabe dando valor a eles?

domingo, 20 de maio de 2012

A volta do que jamais se foi...

ainda escrevendo...

Não parei, não deixei de lado minha fome de palavras, minha sede de ideias, meu desejo de aventura. Ainda estou aqui.

Meu corpo sai, minhas mãos não pousaram sobre estas páginas, meus olhos encarando outra realidade quase se fizeram fechar; minha boca, seca, sempre fechada, não repetiu pequenos fragmentos de pensamento que se fizeram história, por um longo tempo. Minhas palavras podem ter se ausentado, mas minha alma jamais se afastara daqui.

Volto então como o carrasco de minha ausência, o Bobo de minha própria corte, a mentira de minha própria verdade; essa é a ressurreição do que jamais morrera, a volta do que jamais se foi, é assim meu regresso a estes relatos tão certos quanto a incerteza e tão verdadeiros como a mentira.

Estou de volta, a assombrar a quietude, a provocar o inocente, a convidar o mundo a pensar.

estou de volta...

ainda escrevendo...

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O Nada



Às vezes eu fico pensando no nada, horas e horas, pensando nesse enorme vazio que existe, E chego à conclusão de que nunca vou concluir coisa alguma, afinal, o nada ganha forma quando penso nele e vai contando histórias. Sendo assim, quando eu penso no nada ele se transforma em alguma coisa e aí já não eé mais o "nada".

Na verdade não da pra saber se o nada existe, por mais que você procure o nada sempre acaba encontrando alguma coisa, uma forma, um som, uma sensação, uma lembrança. E por mais que alguém um dia encontre o nada de nada vai adiantar, esse alguém não vai lembrar de nada e se lembrar e explicar vai estar explicando alguma coisa e se estiver explicando alguma coisa não vai estar explicando o nada.

domingo, 18 de setembro de 2011

O peso da sabedoria



A seguinte história tem várias versões, cada uma com suas peculiaridades, independente de crença ou religião eu gostaria que todos aprendessem e guardassem algo dela consigo.

Num chão sem horizonte, com um fundo vazio, uma romaria se seguia, centenas de pessoas, cada uma carregando sua cruz, algumas maiores e mais pesadas, outras menores e mais leves. O caminho era longo e vazio, cansativo e silencioso, nublado, massacrante.

Em certo ponto do caminho alguém parou, sua cruz estava muito pesada, então ele pediu permissão a Deus para trocar de cruz, Deus permitiu e a cada trecho percorrido esse alguém trocava de cruz.

Mais adiante outro alguém também parou, sua cruz era muito grande e pesada, difícil de carregar, então esse alguém pediu permissão a Deus para cortar um pedaço de sua cruz, Deus permitiu e esse alguém a cada trecho percorrido cortava um pedaço de sua cruz.

Em certo ponto do caminho a pessoa que estava trocando de cruz encontrou Jesus e disse: "Senhor, por favor, estou trocando de cruz de tempos em tempos, mas cada cruz que pego é mais pesada que a outra, por favor troque de cruz comigo, essa que o Senhor carrega parece ser tão leve."

Então Jesus trocou de cruz com a pessoa, que disse: "Obrigado Senhor, essa cruz é bem mais leve, muito obrigado.". Jesus então olhou a pessoa sorrindo e disse: "Essa é a cruz que você carregava no início da romaria e disse que estava muito pesada.".

Mais adiante viram-se os romeiros diante de um precipício, alguns metros além desse via-se um lindo lugar, com pessoas felizes e despreocupadas. Então Deus disse: "Façam pontes de suas cruzes e deixem-nas, pois para onde ireis não há dor nem sofrimento.". Todos deitaram suas cruzes, fazendo-as de pontes e atravessaram o precipício, menos algumas pessoas que tinham as cruzes curtas demais, pois estas não haviam carregado bagagem suficiente para ter a sabedoria de desfrutar os bons momentos, então Deus disse a estas pessoas: "Voltem, peguem novas cruzes, refaçam a romaria carregando a bagagem necessária e poderão desfrutar dos momentos de alegria que lhes aguardam."